segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O homem no estojo

"O professor do ginásio saiu do galpão. Era um homem de pequena estatura, gordo, totalmente calvo, de barba negra até quase a cintura; e com ele saíram dois cães.
_A lua, mas que lua! - Disse ele, olhando para cima.
Já era meia-noite. À direita, via-se a aldeia toda, a rua comprida estendia-se para longe, por umas cinco verstás. Tudo estava mergulhado num sono misterioso e profundo; nem um movimento, nem um som, é difícil até acreditar que na natureza pode haver um silêncio assim. Quando, numa noite de luar, se vê uma larga rua de aldeia, com suas izbás, montes de feno, salgueiros adormecidos, faz-se um silêncio dentro d'alma; nesse seu repouso, oculta nas sombras da noite dos labores, preocupações e desgraças, ela é cândida, triste, bela e parece que até as estrelas olham para ela com carinho e encantamento, e que já não existe o mal na terra, e que tudo está bem. À esquerda,na beira da aldeia, começava o campo. ele era visível bem de longe, até o horizonte, e em toda a vastidão desse campo, inundado de luar, também nada se movia, nem um som."

Tchékhov